Adoro gente que diz “a ondulação não encaixou". Ou encaixou. É melhor quando encaixa, porque aí tem onda. Mas é que no caso de quando pensei “nossa, adoro pessoa que fala isso” a ondulação não tinha encaixado. Isso quer dizer que passou ao largo a ondulação que veio sei lá de qual meio do oceano, provavelmente bem longe. Isso quer dizer que aqui na praia que dá onda no meu bairro não teve onda apesar de ter entrado a ondulação prevista, vinda da direção certa. Pois não encaixou.
Mas me alongo, né. Um parágrafo inteiro falando da ondulação que não encaixou. É que não sei mais escrever. Perdi a manha, ou perdi a mão. Na verdade eu não acho que algum dia tenha sabido escrever. Apesar de já ter escrito provavelmente mais de mil posts de blogs e redes sociais, dezenas de reportagens, matérias e artigos, cadernos desde que eu era criança, um TCC, uma dissertação, vários zines, um livro (dois, mas o primeiro foi uma coleção de posts e artigos).
Sabe por que eu acho que não sei escrever e fico tanto tempo sem escrever? Porque enquanto escrevo eu tô pensando “e aí? quem é que quer saber disso?". Já tem tanta coisa escrita no mundo, todos os dias milhões de pessoas expelem e publicam textos, pra que que eu vou fazer isso também, quem é que lê tudo isso.
Pra que então eu tô começando uma newsletter? Mais uma. Quem é que tem tempo pra ler MAIS UMA coisa que chega no email.
No entanto sigo escrevendo, ainda que pouco. E no entanto leio algumas das coisas que escrevi e gosto, acho bom, bem escrito (desse meu jeito mal acabado), às vezes me surpreende, fui eu mesmo que escrevi isso? Quem nem esses dias vi um vídeo de uma onda e a pessoa na onda tava com uma projeção tão boa que tive que olhar duas vezes pra ver que era eu mesma.
No fim, quem se importa que eu acerte uma manobra ou escreva alguma coisa? Só eu mesmo. E tudo bem.
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Eu moro em Salvador faz dois meses, desativei a conta do Instagram que tinha dez anos, mais de 5 mil fotos e 7 mil seguidores, não tenho mais certeza de nada (o que me impede de fazer militância e ativismo), não sei se algum dia vou achar de novo aquilo que perdi (e tudo bem); minha gasolina hoje em dia é surf, forró, meditação, análise, sol, praia; sigo querendo plantar comida mas agora não tenho mais laje nem quintal (tô plantando na área de serviço do apartamento que não tem nem sacada), não pensava que voltaria a morar numa cidade mas cá estou (o requisito que permanece é: perto do mar).
E eu quero estar perto de gente que diz que a ondulação encaixou. Porque é bem melhor quando encaixa.
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Tenho um monte de textos lá no Medium mas as newsletters que assino me deram vontade de escrever aqui também. Adoro as coisas que leio aqui. Pra mim importa que vocês escrevam.